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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A amizade e uma história de amor

Por, Aluizio A. Marcondes


A amizade e amor é algo difícil de ser explicada, definida, a amizade e amor, é algo maior, é empatia, é conhecer as limitações do próximo, é respeito pelo outrem, é auxiliar o outro nas suas necessidades, é caminhar junto, não aceitar as aberrações do outro mas ajudar o outro no caminho certo, auxiliar na formação de seu caráter e honestidade, é sempre algo a mais que podemos fazer pelo outro. É mais fácil falar da amizade e amor, escrever sobre a elas, do que verdadeiramente ter amizade com amor ou amor com amizade. Para que eu possa explicar a respeito do fato, é preciso contar a vocês como eu aprendi sobre a amizade e amor, e quanto ela é fundamental e importante na vida no dia a dia deste mundo tenebroso. Também sabemos da importância que Deus dá a isso, pois esta é uma das qualidades de Deus, que é as vezes escondida em muitas passagens bíblicas. A amizade e o amor de Deus para com alguns homens são relatados nos Talmudes judaicos e na Bíblia, desde que existe este planetinha. Nos últimos dez anos de vida de minha avó, eu passei a ir todos os fins de tardes em sua casa, e ela chamava-se Noêmia. Lá ia eu visitar uma velhinha de 86 anos, às vezes permanecia por 20 a 30 minutos e às vezes 1 a 2 horas, em longos bate-papos, sobre ela, sobre a vida e sobre o passado. Ela morreu aos 97 anos de idade. Lúcida e inteligente e perspicaz até o último dia. E neste dia, já lá por 19:30 horas, eu a ajudei a ir para o seu quarto, devagar quase parando, ela com a bengalinha que eu comprei no Dr.Schol´s, e de braço dado comigo, falando mansamente sobre a sua saúde.(neste tempo, já com seus 96 anos, bem vividos) Cansada, dormindo já muito durante boa parte do dia, e , ela já dizia estar muito cansada e já sem o paladar da comida. (Gostava muito da boa comida, e era cozinheira de mão muito cheia) Com o seu pijaminha de pelúcia de bichinhos desenhados ela deitou, e eu e minha tia Azaleia cobrimos a vovó. Me despedi com um beijinho no seu rosto, quase sem rugas, uma velhinha bonita, alegre, e sincera. Colocou suas mãos como em oração como sempre fazia, no travesseiro e descansou sua cabeça quase sobre às mãos. De manhã cedo, fomos acordados com um telefonema, da enfermeira, a vovó morreu. Quando lá cheguei, estava como deitou. Fisionomia serena, Deus a levou como um passarinho. Muito bem, e a amizade? Ora, nestes dez anos eu aprendi com ela muito, mas muito mesmo, sobre a vida e a amizade. Minha avó, lá pelo começo do século 20, era noiva de um filho de um engenheiro ferroviário e missionário de uma igreja americana. Lá estava ela em seus preparativos de casamento e em pleno gozo de seu sonho em ir morar nos USA. Ela, filha de uma francesa que aos dêz anos veio para o Brasil e aqui ao completar 15 anos casou com um agrimensor, vovô Pedro. Pensava ela dizia, nem bem nasci em solo brasileiro, lá vou eu imigrar para os USA. Com sonhos e mais sonhos. Porem, a vida preparava outro caminho para ela. Ela, presbiteriana, cantava no coral da igreja, jovem destacada entre as moças da sua época, moça de oração, estudo da bíblia, convertida cedo a Jesus Cristo e frequentadora assídua da Igreja. Naquela época, meu avó era casado com sua irmã mais velha (sua única irmã), ele com 29 anos de idade, responsável, inteligente, homem letrado, por auto estudo e com muita energia. Sua esposa fragilizada com uma tuberculose, recém tinha dado a luz. Ela piorava a cada dia. Minha avó, seus pais e marido revezavam-se no seu atendimento. Época de parcos recursos, a coisa foi piorando. Contou-me a vovó que se existia amizade e amor, era o que acontecia entre ela e sua irmã. Desde pequena ela costurava para a sua irmãzinha fazendo-lhe roupas. Um dia ela me disse, que a irmã fez um pijama para ela, quando tinha 5 anos, e que ela gostou muito do pijama e ficou muito feliz, e ela regozijou-se com a sua alegria. Sua irmã quando doente falava para ela, uma sentada de frente para outra, na cama, ( e ela me disse que faziam isto sempre) de que se acontecesse de ela morrer, que ela pelo menos leva-se o neném com ela para os USA. Os outros filhos e filhas de meu avô seriam distribuídos entre os parentes. Meu avô era funcionário público federal, e ganhava muito pouco, tinha que trabalhar em período integral e não podia cuidar das crianças. (Eram então um filho e quatro filhas contando com o neném) Após algum tempo, disse a minha avó, ela estava exausta, o cuidar era intenso, e um dia ela foi para a sala da casa e caiu sobre o sofá e adormeceu. Então, sonhou com a sua irmã quando ainda eram pequenas, e, disse ter visto ela em um portão de barras finas de ferro onde a parte de cima era arredondada, e havia muita luz branca amarelada por detrás de sua irmã. Sua irmã abriu o portão e deu tchau com a sua mãozinha. Neste momento, ela acordou em sobressalto, e ouviu voz e choro no quarto de seu pai e do seu cunhado. Sua irmã tinha morrido. E depois de algum tempo, estavam acertando a distribuição dos filhos de sua irmã. E assim a minha avó disse, que começou a conversar com o seu noivo, o que fazer, e explicando a ele sua conversa com a irmã. Ele, também homem de Deus, porem amando a sua noiva, estava também em choque e em cheque. Imagino quanto não foi difícil para ele e para ela. Que desespero! (isso de minha parte, ela somente me disse, “foi difícil...” – característica que aprendo! Explico adiante) A minha avó e o seu noivo resolveram desmanchar o noivado, para que ela pudesse cuidar dos seus sobrinhos, casando-se com o meu avô, e assim os filhos (as) da sua irmã não perecessem de amor e  desgarrados lançados a sorte neste planetinha e assim cumprisse o que a sua irmã lhe pediu antes de sua morte, e fazendo mais ainda, “caminhando uma milha a mais”. Eu lhe perguntei. Vovó! Não foi muito sacrifício? Largar o seu noivo e viver com um homem que não amava a não ser como amigo, um cunhado? Ela me respondeu.... Meu filho... as crianças iam sofrer muito.... eu amava a minha irmã e seus filhos. Assim o meu noivo e eu “ acertamos direitinho”, e ele me disse que se o seu avô, a maltrata-se ou a fizesse infeliz, que ele voltaria me buscar. Eles, disse a minha avó, se corresponderam por muito tempo ainda. Ele foi para os USA exercer a sua profissão e nunca precisou voltar. A minha avó teve então duas filhas, uma das quais é minha mãe. Lá, o ex-noivo de minha avó, fez a sua família, foi avó e feliz. Como sei? Bem, o filho mais velho de sua irmã, tornou-se coronel do exercito brasileiro, e foi chefe do serviço de segurança da Presidência da República, quando o Presidente era João Goulart. Como era homem informado e muito bem relacionado, ele foi aos USA e por sua curiosidade procurou saber através de seus contatos, disse ela, "como estava o antigo noivo de sua mãe."  Descobriu onde morava e todas as informações possíveis a respeito do antigo noivo de sua mãe (madrasta). Ele sempre chamou a minha avó de mãe, desde pequeno, disse ela, ...nesta época ele tinha7 anos, e ...ele entendeu. Ela tinha um amor muito grande por este filho.  Um sacrificial pela sua irmã.- apesar de ela dizer que pela irmã não era um sacrifício! Estava feliz, bem casado e era avô. Ótimo! Então, o meu tio contou para a minha avó. Minha avó, jamais queixou-se de alguma coisa! Nunca em minha vida, fiquei sabendo de que minha avó sofresse ou de que tivesse arrependimento pelo que fez, ou algo assemelhado! Para ter uma idéia, somente aos quarenta e tantos anos, eu fiquei sabendo alguns segredos da casa dos meus avós. Meu avô, era homem letrado, enérgico e levava a fama de fazer belíssimos natais, com tudo o que tinha direito. Presépios com água circulando, bonecos de reis magos mexendo e tudo o mais, pinheirinho enfeitado, muitos presentes, festa a mil. Não lembro um natal se quer que na casa de meu avô, tivesse menos do que 40 pessoas. Meu avô levou a fama com todos os seus netos e bisnetos. E, em conversa com minha avó sobre o natal, ela deixou um leve sorriso no rosto, isto já ela tinha 94 anos. Percebi e perguntei vovó eu sei que aí tem coisa, me conta! Então ela riu... e falou, meu filho eu sempre fiz tudo... o importante é que seu avô foi feliz... os seus netos amavam o natal em sua casa. Elevou o seu marido sempre. E perguntei novamente... Vovó o que é importante na vida para a senhora. Como a senhora foi feliz, com toda a sua história? O que foi importante para a sua velhice prolongada. E, ela me respondeu.... meu filho, eu nunca guardei mágoa e tristeza, só vejo o que é bom nas pessoas, e só guardo isto.  Por exemplo... o seu avô, como todo o marido, não foi perfeito, mas ele também tinha muitas qualidades.... e, é estas qualidades que a gente tem que guardar. O resto é resto, e, como tal, deve ser colocado de lado. Aqui, eu me lembrei da visão de Deus e da visão dos homens.  Crônicas e de Reis,   a maneira que Deus relata a respeito dos seus seguidores e a maneira de como os homens o descrevem.    Esta era a minha avó. Elevar o seu marido, por fora as coisas ruins, guardar as boas, não resmungar da vida, procurar ser feliz com o que tem, amar o próximo e cultivar as amizades. Ela deu a sua vida em prol de muitos. E, então... Deus a abençoou, com saúde, amor, muita felicidade e prolongou os seus dias na Terra. Morreu aos 97 anos, lúcida e muito amorosa. Escreveria muito a seu respeito, do que conversamos estes anos todos, mas, acredito que para mostrar a amizade e o amor, esta história é suficiente.
Agradeço a Deus Pai pela sua vida e por ter sido o que foi para mim e para todos os que tiveram a felicidade de conhecê-la e conviver com ela. Amizade... e amor... ela me disse:  que tinha muita amizade com sua irmã. E que jamais em sua vida ela se lembrava de se quer ter discutido com sua irmã. E isto eu vi em seu rosto. O brilho de seu rosto. A alegria de ter se sacrificado pela sua irmã, e sido feliz. Se você tem um velhinho (a) em sua família, aproveite para gastar um tempo com ele (a), vale ouro.
Diz um provérbio chinês: Há três coisas que não voltam atrás a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.